Julio Berdegué é nomeado novo representante da FAO na América Latina e Caribe

Mexicano, Julio Berdegué é Doutor em Ciências Sociais e acredita que o combate à desigualdade é fundamental para o desenvolvimento. (FOTO: ONU)

Mexicano, Julio Berdegué é Doutor em Ciências Sociais e acredita que o combate à desigualdade é fundamental para o desenvolvimento. (FOTO: ONU)

Mexicano, Julio Berdegué é Doutor em Ciências Sociais e acredita que o combate à desigualdade é fundamental para o desenvolvimento. (FOTO: ONU)

A FAO nomeou o engenheiro agrônomo e doutor em Ciências Sociais, Julio Antonio Berdegué Sacristán como novo Subdiretor-Geral e Representante Regional para América Latina e Caribe.

De nacionalidade mexicana, Julio Berdegué tem doutorado em Ciências Sociais pela Universidade de Wageningen, Países Baixos, e mestre em agronomia pela Universidade da Califórnia-Davis, Estados Unidos.

Antes de assumir o cargo na FAO, foi pesquisador principal e coordenador do Grupo de trabalho Desenvolvimento com Coesão Territorial do Centro Latino-americano para o Desenvolvimento Rural (RIMISP), onde dirigiu pesquisas, assessorias a governos e programas de desenvolvimento de capacidades centralizadas na desigualdade territorial.

“A única maneira de alcançar a fome zero na América Latina e Caribe é por meio de uma transformação real. Isso não se alcança por meio de projetos e intervenções pontuais, mas requer uma mudança de grande escala. Essa é a missão da FAO na região”, ressaltou o novo representante Regional.

Berdegué destacou também, que apesar da região ter alcançado importantes avanços na garantia da segurança alimentar, “a fome ainda afeta a 34 milhões de pessoas, 140 milhões sofrem de obesidade e 34% dos habitantes de áreas rurais vivem na extrema pobreza. Isso é uma realidade inaceitável, fruto de uma maneira de fazer as coisas, maneira esta que devemos mudar”.

Para erradicar a fome deve-se combater a desigualdade

De acordo com o novo Representante Regional da FAO, a fome na região está intimamente ligada à desigualdade econômica e a rigidez histórica de distribuição de renda na América Latina e Caribe.

“O crescimento com desigualdade é uma característica da nossa região, que continua sendo a mais desigual do mundo,” disse Berdegué, que observou ainda que a concentração regional de terra é ainda maior do que a renda.

Berdegué apontou que “se requer políticas de equidade, de coesão territorial que fomentem a igualdade de oportunidades entre as regiões, políticas fiscais que limitem o acúmulo extremo da riqueza e políticas contra a desigualdade de gênero e etnia.”

De acordo com Berdegué, trabalhar para reduzir a desigualdade não é apenas um ato de justiça, mas um investimento no futuro, já que permite explorar o potencial de milhões de pessoas que o modelo de desenvolvimento atual tem deixado para trás.

“Nós não poderemos erradicar a fome se as mulheres – metade da população – permanecem ocupando um espaço marginal, sem poder político, mercados de trabalho e emprego decente. Também não podemos tolerar os altíssimos níveis de pobreza e insegurança alimentar dos nossos povos indígenas e afrodescendentes “, explicou.

Como alimentar a uma população em movimento

Nos últimos anos tem ocorrido um aumento significativo na migração intrarregional. Cerca de 28,5 milhões de latino-americanos e caribenhos residem em países diferentes de onde nasceram e 66% dos imigrantes da América Latina e do Caribe migra para países da própria região.

Berdegué destacou a fragilidade enfrentada pelos imigrantes, que muitas vezes chegam aos novos países sem contar com qualquer rede de apoio, o que os tornam facilmente explorados, já que fogem de situações de vulnerabilidade causadas pela pobreza, insegurança alimentar, a falta trabalho, maior concorrência pela terra, escassez de recursos e conflitos armados.

“Como podemos garantir a segurança alimentar de milhões de pessoas que migram de um país para outro em busca de um futuro melhor? Precisamos de soluções urgentes que levam a uma verdadeira integração regional, já que a fome não conhece fronteiras nacionais “, disse Berdegué.

Toda uma vida a favor do desenvolvimento rural

Julio Berdegué seguiu uma carreira marcada pela paixão no desenvolvimento rural, trabalhando em vários aspectos relacionados, tais como o emprego rural e não-agrícola, as mudanças nos mercados de alimentos e os efeitos sobre os sistemas agroalimentares e o desenvolvimento territorial rural.

De acordo com Berdegué, fortalecer o desenvolvimento territorial em áreas rurais da América Latina e do Caribe é uma das chaves para alcançar a fome zero.

“Entre as cidades e áreas rurais que as rodeiam, há uma densa rede de interdependências. O agricultor compra e vende na cidade. O comerciante do povo depende em grau significativo de consumidores rurais. As mulheres do campo que procuram empregos urbanos, e muitos residentes urbanos são trabalhadores agrícolas “, disse ele.

Destacada carreira como pesquisador

Julio Berdegué é autor de numerosos livros e dezenas de artigos em revistas científicas internacionais, e prestou assessorias a governos nacionais e regionais em vários países da América Latina, entre eles Colômbia, Chile, Guatemala, México e Peru.

Nas últimas décadas trabalhou em algumas das agências e instituições nacionais e regionais das mais importantes destinadas ao desenvolvimento rural, como o Instituto Interamericano para a Cooperação em Agricultura (IICA), o Fundo Internacional de Desenvolvimento Agrícola, FIDA, o Instituto Nacional de Desenvolvimento Agropecuário (INDAP) do Chile e o Grupo de Pesquisa Agrária (GIA), uma das mais importantes organizações não-governamentais no Chile.

Ele também foi membro do conselho diretivo de várias organizações internacionais, como o Centro Internacional de Melhoramento do Milho e Trigo (CIMMYT-CGIAR) da qual foi presidente entre 2008 e 2011, e o Instituto Internacional do Meio Ambiente e Desenvolvimento.